Meus amigos:

Antes de qualquer coisa, quero agradecer imensamente as muitas mensagens de congratulações sobre meu aniversário.  

Neste 4 de julho, além de comemorar mais um ano de vida, quero compartilhar o grande orgulho que tenho do meu pai, Miklós Korontai, que, após longo período em que esperava ansiosamente pela abertura das portas do outro lado da dimensão da vida, obteve, finalmente, o direito à uma tranqüila e serena passagem, após uma riquíssima vida de pouco mais de 83 anos . E foi às 21:20h da noite de domingo, dia 3.  

Este dia 4, portanto, foi absolutamente diferente, não há dúvida. Tudo muito simples, como uma passagem tranqüila requer, na intimidade da família, misturando-se à alegria dos amigos que ligaram, vários de longe, para me parabenizar, quando a única dificuldade foi a de não revelar a cada um, o que havia ocorrido, para não quebrar a pretensão de cada gostosa comemoração pela minha existência. Afinal, é o objetivo do aniversário, quando se pode agradecer, com regozijo, a dádiva da vida.  

 Agora faço não apenas o agradecimento mas a comunicação da partida de quem me é querido,  expressando, porém,  a tranqüilidade e serenidade que tenho com o evento natural da vida. Por isso, não estou triste, apenas sereno, certamente um pouco recolhido.  

Chegadas e partidas acontecem, todos os dias,  em outras famílias pelo mundo. Mas,  daqui para frente, em cada novo aniversário a que vier ser brindado, recordarei, como presente que recebi na data de meu nascimento, o privilégio de ter tido um pai, como Miklós Korontai.

Um abraço a todos!

Thomas

 

Um pouco da vida de Miklós Korontai

 

Capa de um singelo trabalho, um livreto de poesias, com um prefácio meu, em forma de biografia do meu pai, escrita hás uns 3 anos. Será para mim, uma honra que você o conheça, sua obra e grandeza como ser humano.

Schövényhazy Kulitzy Korontai Miklós Ede

 

Um nome aristocrático, define a pessoa, o caráter, a personalidade do autor das poéticas linhas extravasadas adiante.

Miklós Korontai, nome que resume uma vida, retratada numa crônica que busca destacar as principais passagens do autor dos cantos e desencantos, ora rimados outros não, transmitindo uma visão mais que verdadeira do que é a vida de um homem que chega aos 80 anos.

Um dos poucos passageiros que embarcou em charretes, bondes, trens, automóveis, aviões e jatos para transpor a barreira do III Milênio. Experimentou paz e guerras, amores e solidões, riqueza e pobreza, fama e anonimato, respeito e esquecimento, vigor e imobilidade, sabedoria e impulsividade, lucidez e poeira, inventividade e torpor, ação e placidez, estabilidade e fuga, pátria e nova pátria, desafios e receios, música e culinária...

Um pluriato, um desses raros seres humanos que tem o toque da arte, da criatividade, da ação, da sabedoria, do charme, da elegância, da habilidade em tudo que faz.

Se Miklós tivesse forças ainda, para escrever um livro de sua vida, o seria em diversos e grossos volumes, tão extraordinária e repleta foram esses 80 anos.

Sua poesia retrata isso, basta deixar-se levar, vivenciar os pontos e contra-pontos citados e poderá perceber-se envolvido na emoção de cada exteriorização desse espírito mais que evoluído.

Houve quem não gostasse desse húngaro grande e forte, firme e decidido, absolutamente verdadeiro em um país onde o pragmatismo e a sinceridade são muitas vezes, substituídos pela hipocrisia ou demagogia.

Mas houve (e há) muita gente que o admirou e admira. Seus feitos e sua maneira de ser encantavam muita gente. O jeito franco lhe granjeou uma das coisas mais difíceis de se conquistar em um país como o nosso: a credibilidade.

Lembro-me de como as pessoas o procuravam para consultá-lo em sua sabedoria, visão cosmopolita e filosófica.

Sua bondade não tinha limites. Muitas vezes se deu mal com ela, pois junto com a bondade, possuía uma ingenuidade típica de quem é puro e nunca deixou de ser. Passada a raiva de um desengano, voltava a confiar e acreditar nas pessoas. Ainda bem que a maioria é bem intencionada...

Como um dos seus filhos, sinto-me orgulhoso de prefaciar estas pérolas, singulares pela singeleza, pelo descomprometimento das regras, dominadas pela emoção pura dos momentos de reflexão que, provavelmente, todo mundo faz, se chegar aos 70, 80...assim como, contar um pouco da sua história, rica e muito bem vivida.

Miklós, meu querido pai,  pode olhar para trás, lembrar do que fez, de tudo que passou, de tanta gente a quem você influenciou de maneira marcante e tão positivamente, inclusive a mim, cujo agradecimento espero poder fazer, fazendo-o orgulhoso de sua “cria”.

 

Um pouco de sua história, vale a pena:

Miklós nasceu em Budapest, capital da Hungria em 13.02.1922. Descendente de uma família com cerca de 800 anos, numa Hungria de 1.100 anos, ele teve  a primeira etapa de sua vida com formação eminentemente aristocrática. A construtora da família era uma das mais importantes do país, o que o levou a cursar engenharia e arquitetura, em detrimento de sua “verdadeira vocação” – médico.  As aspas têm um significado: Miklós é um pluriata, um homem de muitos talentos, não um daqueles que faz de tudo um pouco, mas um dos raros que faz muito,  com perfeição e ainda por cima, inovação. Veja só:

 

Criatividade -

Miklós Korontai fez doutorado na Alemanha, em pré-fabricados e adquiriu grande experiência quando fez parte de uma equipe, na Hungria já comunista, de pesquisa e identificação de materiais para pré-fabricação no próprio local de construção, pois era necessário a rápida reconstrução do pós guerra.

Inventor com criações na construção civil – tanto em concreto, alvenaria quanto em madeira e outros materiais. Inventou uma forma de pré-fabricar paredes de alvenaria de tijolos, cujos paínéis permitem a construção de uma casa de 100 m2 em apenas 1 dia. E muito mais resistente do que qualquer outra.  Inventou diversos outros sistemas construtivos, destacando-se na madeira, onde fez história, no Brasil e exterior, produzindo, como Diretor da maior fabricante de casas pré-fabricadas no segmento em todo país, na época (1977 a 1980) casas de médio e de alto padrão. Construiu em diversos países, até mesmo nas Malvinas, antes da guerra com a Inglaterra, dentro dos moldes vitorianos. Ao todo construiu mais de 700 obras só nestes anos.

Miklós inventou também a consagrada régua paralela utilizada em desenho arquitetônico até hoje, assim como, novo tipo de luminária, modelos de mesas de desenho, cadeiras para projetistas – reguláveis na sua altura sem nenhum parafuso, mola, rosca ou qualquer outro dispositivo. 

Miklós embrenhou-se na mecânica muitas vezes ao inventar máquinas apropriadas para otimização produtiva no ramo da madeira – móveis e casas pré-fabricadas. Tais máquinas suprimiam, por vezes, duas ou tres etapas no fluxo industrial. Mas na mecânica de automóveis também se aventurou, inventando um carburador no qual poderia se utilizar qualquer óleo para substituir a gasolina em motores a explosão para automóveis, sem modificações substanciais nos mesmos. Mas não chegou a ser aproveitado pois faltaram recursos e apoio.

Ainda na construção civil, Miklós desenvolveu produtos químicos, estudados em seu laboratório residencial nos anos 70, em São José dos Pinhais, obtendo uma liga em concreto que permitia a utilização de caliça ou areia do mar para confecção de paredes de alvenaria através de formas. Aliás, foi o primeiro a usar o processo de construção através de formas para concreto. Uma vez retiradas as paredes já com as aberturas, estavam prontas e curadas, ou seja, já se podia cobrir a casa. O concreto ficou com extrema resistência. Várias casas foram construídas no início dos anos 70 em São José dos Pinhais. Ele chamou técnicos e políticos ligados ao recém fundado Banco Nacional da Habitação – BNH – para mostrar como se poderia utilizar essa tecnologia em construção de milhares de casas, considerando o déficit habitacional que já era grande na época. Foi chamado de comunista, por propor casas de um mesmo padrão para grandes conjuntos populares, como forma de redução de custos. Logo se viu, através das Cohabs, que ele não estava errado. Quanto à utilização das formas, também foram desprezadas. Após alguns anos, construtores locais alugarm por alguns miljões de dólares, dos EUA e do Canadá, formas similares...

Miklós Korontai estava sempre à frente de seu tempo. Ainda em 1967, inventou um dispositivo eletrônico muito simples que promovia a comutação automática da altura dos faróis de automóveis para evitar a famosa luz alta que tantos acidentes provocou. Outra invenção no trânsito foi um semáforo automático que funcionava com a aproximação de veículos, provido de espelhos, dando enorme segurança, especialmente em esquinas com pouca visibilidade. O projeto chegou a ser analisado pelo Detran mas, assim como tantos outros de outros inventores geniais no Brasil, ficou na gaveta.

Miklós inventava e projetava móveis também. Tanto no aspecto funcional quanto no design, como ainda, no método de produção e construção. Foi o primeiro a introduzir conceitos de móveis desmontados de forma que coubessem em pequenas caixas, objetivando a exportação. Os parafusos de madeira para laterais de sofás e poltronas, por exemplo, foram um tremendo sucesso na época  e são usados até hoje. Trabalhou nesse sentido em uma grande indústria de estofados, a maior do país na época,  criando cerca de 80% de todas as linhas. Ele desenhava as peças,  pessoalmente ia para as máquinas para ver como funcionava a produtividade e criava todo o fluxo industrial, até o empacotamento. Aliás, ele desenvolvia equipamentos movidos a ar que empacotavam os conjuntos completa e rapidamente.

Ainda na Áustria, em 56, durante o curto período em que esteve antes de vir para o Brasil, após ter conseguido sair da Hungria dominada pelos soviéticos, trabalhou em uma grande fábrica de brinquedos, uma das maiores do mundo na época e lá criou e desenvolveu muitos brinquedos.

Teve mais de 20 invenções, métodos e processos pedidos como patente, sem contar os que não encaminhou. Até um luminoso com efeito eletrônico mas totalmente mecânico ele inventou - desenvolveu vários protótipos – de 1971 a 1975, objetivando licenciar ou mesmo produzir. Não prosseguiu por falta de apoio...

Ele também era decorador e arquiteto de interiores. Projetava e desenhava tudo, compondo os ambientes de acordo com a exigência do cliente e da época, seja residencial ou comercial.

 

Na cozinha -

 

Excelente cozinheiro, conhecedor de mais de 300 tipos de pratos internacionais diferentes, confeiteiro (maravilhosas tortas e doces diferentes) foi proprietário de restaurantes como o Hungária em Blumenau em 1963 e o Riviéra em Balneário Camboriú em 1964/65. Criava pratos maravilhosos a ponto de serem fotografados por turistas.

Em 1970 lançou o primeiro buffet no sul do Brasil, o Buffet Pionner, na galeria Andrade,  criando um impacto na clientela conservadora, reduzindo custos e propondo o ainda desconhecido conceito de “fast food”.

 

Na música –

Miklós compôs letras e melodias – duas das letras estão presentes neste singelo livro – gravadas em CD de apresentações antigas, originais e resmaterizadas e que estarão disponíveis em site. Tocava piano com grande habilidade e cantava, com excelente voz de barítono. Hoje, com os dedos cansados pela idade, ainda dedilha o teclado eletrônico em sua casa.

 

Na arte –

Esse húngaro extraordinário ainda pintava, não quadros para serem expostos, mas as casas e obras arquitetônicas que criava e desenhava, tanto em lápis coloridos, como em aquarelas. Tinha uma habilidade enorme com o lápis e ensinou muitos arquitetos recém formados que trabalharam com ele, assim como,  projetistas práticos  cujo talento ele identificava através de pequenos testes descompromissados.

Desenvolvia maquetes tanto profissionais como para seu próprio deleite como apaixonado por ferromodelismo.

 

Diversos –

Miklós Korontai teve que enfrentar duas guerras: a 2º Grande Guerra Mundial, atuando inclusive na frente russa, levando dois tiros em duas ocasiões diferentes e a outra, a Revolução Húngara contra a dominação soviética, em 1956. J

Já tinha perdido tudo, todas as propriedades da família, pois tudo passou “a ser do Estado”, do Povo, como era o estatuto comunista. Foi preso e torturado algumas vezes pelo sistema e só não foi morto ou deportado por não ter sido provado nada quanto às suas práticas de espionagem.

Com o advento da Revolução e sua derrocada, com a entrada de 2 mil tanques  soviéticos em Budapest ele teve que fugir da Hungria em 1956, encontrando-se com a esposa, Madalena (com a qual vivou por 16 anos), na Áustria, cuja fuga também tinha sido negociada com uma rede que tinha se especializado nisso. Quando conta suas histórias, Miklós narra coisas extraordinárias, dignas de um grande filme. 

 

Quando chegou ao Brasil, no início de 1957, como asilado político e recomendado como anti-comunista pelos americanos que o tinham convidado a ir para os EUA (ele ficou receoso de ser instado a se incorporar à CIA face às suas credenciais, tanto pela demonstração anti-comunista e de ter participado ativamente da 2º  Guerra, como também, pelos atributos físicos, pois tinha sido campeão universitário da Hungria em luta greco-romana) residiu em São Paulo.

Lá atuou como engenheiro contratado por uma grande construtora de compatriotas mas trabalhou também, terceirizadamente  para a antiga fábrica de brinquedos Trol, pintado, com aerógrafo, pequenas bonecas. Chegou a ter uma equipe e em menos de dois anos já tinha seu próprio automóvel, um Skoda. Nada mal para quem tinha começado sem conhecer nada do idioma, com US$ 100 dados pela imigração e com um filho recém nascido e com outro, Paulo,  por nascer em 1959.

Convidado por uma construtora americana ele partiu com a família para Candói, no meio do estado do Paraná, próximo à Guarapuva, para participar de uma equipe que construía uma represa e instalações de uma fábrica de papel e celulose. No ínício de 60, só se chegava lá através de pequeno avião.

Em 63 seguiu para Blumenau, montando o Hungária. Em Balneário Camboriú, em 65, após ser roubado pelo sócio no restaurante Riviera, deixando-o sem capital para prosseguir, criou o primeiro cinema, o Cine Vera. Ele mesmo rodava os filmes, enquanto a esposa ficava na bilheteria. Trocou-o por uma fábrica de móveis em Curitiba em 66, com a qual operou até o final de 1969.

Miklós tinha se especializado com essas experiências, na condução de empresas, especialmente na indústria e por mais de 20 anos atuou como Diretor Industrial de diversas empresas nos 3 estados do sul. Era conhecido como “arrumador de empresas” pois ao chegar, reorganizava toda a sua produção, criava e desenvolvia máquinas, equipamentos próprios, métodos de produção e até na visão de mercado e target para o qual a empresa deveria se orientar. Bastavam alguns meses para uma total renovação, quase que um processo de reengenharia, embora o termo não existisse na época.

Também foi empresário, tendo sua própria construtora mas o período foi muito difícil para quem não tinha capital para agüentar.

Miklós ainda teve influência muito grande na vida de centenas, talvez milhares de pessoas, durante os anos em que atuou, de forma totalmente gratuita, como espírita, especialmente em Caxias do Sul/RS, tendo uma força espiritual incrível, que eu mesmo presenciei. Muita gente foi curada de doenças de forma inexplicável. Parece que o desejo de ser médico, reprimido pelas circunstâncias, acabou sendo realizado em parte, ao poder ajudar tanta gente como eu vi. Até hoje não se sabe qual energia que estava com ele, no atendimento médico, ele não conta, mas o fato de receitar medicamentos que às vezes não tinham sido lançados no Brasil ainda, era mais um fato marcante. Também dava palestras sobre espiritismo, com enfoque mais científico possível para evitar fanatismos e ajudar a identificar o que ele chamava de “mistificação”, ou seja, pessoas que eram acometidas por transes de ordem psicológica, em nada se relacionando à energia.

Hoje, vive com a nona mulher (isso mesmo!) Terezinha Batista, já há mais de 12 anos, a qual agradeço toda a atenção e dedicação que tem dado, por puro amor.

Muito mais poderia se contar do que eu sei de suas realizações e de sua vida extraordinária mas creio que isso deva ficar para um livro, quem sabe, futuramente. Mas esse “resumo” já evidencia quem foi esse húngaro vigoroso, muitas vezes incompreendido em um país de linguagem cultural e comportamental diferente da rigidez européia, do “tudo certinho” mas, com certeza, como nada ocorre por acaso, o país certo, para o qual o destino o enviou, para dar a sua parcela – importante parcela – de contribuição no seu desenvolvimento. E isso, meus caros leitores, ele fez, com toda certeza. Um orgulho e um privilégio ser filho de Miklós Korontai.

Algumas das poesias que conseguiu reunir, quando decidiu quer queria colocá-las em um livreto. Interessante notar que a singeleza dos textos parecem refletir vários momentos da vida de Miklós, muitos dos quais ocorrem com tantos de nós.
Ele ficou devendo o livro da vida dele... (nota minha em 05/07/2005)

 

 

                                  a paz

                     o céu eterno envolvia-se

                     na escuridão mística:

                     só as estrelas piscaram;

                     tomando conta o silêncio

                     a tudo que era agitado:

                     a ‘’vida-robô” está descansando!

                     só eu estou olhando, desesperado,

                     procurando a paz nas estrelas

                     talvez com elas viveremos bem?

                     brilhando para sempre.

                     parecem diamantes em cortina negra

                     quero juntá-las de uma vez

                     mas não as alcanço, nunca!            

                       

 

                      onde está a felicidade?

                    passaram-se anos, amargurado

                     com a vida, censurado,

                     sem saber onde estava

                     andava como cego ao sol

                     procurava de onde viesse o calor;

                   porque onde tem calor, tem luz;

                     onde tem luz, tem amor;

                     onde tem amor, mora a verdade,

                     existência da vida, a felicidade!

 

                     a carona

                     andei na estrada, cansado,

                      esperando sempre carona!

 

                      realmente nem sei

                      quantos dias, meses, anos;

                      estou caminhando

                      sempre só

                      em uma estrada com curvas;

                      nunca vi o horizonte.

                      caminhando com as chuvas

                      e trovoadas, às vezes frias.

                      andei sem descançar

                      de vez em quando, olhando para trás,

                      como fosse esperando alguém;

                      quem poderia me acompanhar?

                      e tomar parte da minha vida;

                      e caminhar junto na ‘’estrada da vida’’,

                      que parece muito difícil e longa;

                      será que alguém, também abandonada,

                      entraria na minha vida de estrada?

 

                     assim talvez chegará o dia:

                     me dará carona tão esperada!

                                    01.05.1994

 

 

                                                  perguntas

                    porque me criticas? será que você

                      fez menos erros que eu?

                     

                      você se ofende tão facilmente

                      será que você tem mais orgulho que eu?

 

                      se você não consegue se apaixonar por alguém:

                      a outra vai dizer que você não presta...

 

                      você corre, sem objetivo, para alcançar

                      mais rápido o nada?

                

                      não adianta fechar os olhos à frente,

                      à verdade; quando não conseguimos esquecê-la.

 

 

                                               a represa de amor

                                               amar demais – e sufocar!

                                               meu deus; tem que continuar!

                                               o amor como uma represa;

                                               se ficar aberta destrói

                                               tudo que é bom e bonito!

 

                                               meu deus! tem que controlar!

                                               como amar sem abraçar?

                                               como amar sem beijar?

                                               como amar sem transar?

                                               a força do amor tão grande:

                                               que dá medo e cria dúvidas

                                               derramando-se até lagrimas!

 

 

                                  a poltrona

                        mandei fazer uma poltrona

                        para minha avó: descançar à vontade

                        com encosto alto, e encosto

                        a cabeça pra cochilar.

                        sonhando coisas que fez chorar.

 

                        a poltrona usada diariamente

                        foi a fuga do triste presente.

                        e ninho de medo do futuro

                        e da inevitável partida

                        entregar para deus a vida!

 

                        realmente chegou o dia temido

                        e a poltrona dela ficou vazia!

 

                        passaram-se os anos...

                        nos mudamos pra cá... pra lá...

                        a poltrona começou a estrovar

                        foi para porões, e outro lugar.

 

                        o tempo também invadiu,

                        a minha juventude...

                        e com os anos me cansava

                        mais e mais facilmente.

                        comentei seria bom uma poltrona

                        aquele tipo da minha avó,

                        um dia do meu ‘’ano virado”

                        com a poltrona reformada fui premiado,

                        os filhos, netos mandaram me presentear.

 

                        hoje as minhas pernas são doloridas,

                        descanço bastante, mas acho

                        que estes tempos são perdidos.

 

                        pensando: no ontem, hoje e amanhã;

                        e devagar, toma conta a soneca;

                        sonhando com saudade do passado;

                        acordando de repente para o presente!

 

                        o presente avançando lentamente,

                        deixando minha vida, apagando,

                        com a velhice tomando conta

                        da minha vida, preparando a morte!

                        estou sentindo que este conforto

                        é veículo da velhice e da morte!

                        por isso não gosto mais

                        desta poltrona de presente!

 

 

                                                           o amor

                                               o amor e a amizade

                                               é como a corda no violão,

                                               se rasga uma vez

                                               não adianta amarrá-la

                                               porque o violão

                                               fica para sempre desafinado!

 

 

                                  a “companheira’’

                        eu vivo sozinho com triste coracão

                        alguém tem que me tirar dessa solidão!

                        procurei uma mulher para ser companheira

                        viver junto comigo; atender meu desejo.

 

                        achei uma, bonita e atraente

                        para casamento bem coerente

                        prometeu me cuidar,

                        alimentar-me, mas não engordar.

 

                        cuidar das minhas roupas,

                        lavadas e bem passadas;

                        sapatos limpos, brilhados,

                        cabelos lindos, bem penteados.

 

                        não deixaria mais eu fumar!

                        porque a saúde pode abalar!

                        não comer carne, faz muito mal,

                        não tomar bebida, nem de modo social!

 

                        comer verduras, mais saudável!

                        não acredito que será agradável

                        dormir cedo, e tamb’rm levantar

                        fazer depois; duas horas de andar!

 

                        que bom achar alguém assim!

                        quem quer tomar conta de mim.

                        fazer para mim a felicidade

                        mas desta maneira perder a liberdade!

 

                        minha mulher linda e querida;

                        não serei escravo nem por brincadeira!

                        quero guardar firme o meu coração.

                        e continuar sozinho na triste solidão!

 

 

                    dia dos namorados

                        amanhã de manhã

                        será o dia de amor:

                        o amor declarado:

                        coração com coração

                        fortemente abraçado.

 

                        amanhã de manhã

                        o dia dos namorados!

                        o dia de libertar

                        todas as emoções,

                        e amar com todos os corações!

 

                        amanhã de manhã

                        quero beijar teus cabelos

                        teus olhos com carinho,

                        e tua testa, quentinha.

 

                        amanhã de manhã

                        quero beijar teus lábios

                        vermelhos e quentes, macios,

                        mergulhar na boca semi-aberta.

                        mergulhar na porta do amor!

 

                        abraçar teu corpo trêmulo,

                        tirando todas as tuas roupas

                        para podermos encostar a nós

                        pele a pele, arrepiados.

 

                        quero beijar teus seios

                        teu colo lindo, que

                        convida para amar!

                        quero beijar tuas coxas

                        torneadas e lisas como seda...

 

                        beijar os lábios de amor:

                        antes de penetrar com

                        tesão e desejo total.

                        assim unirmos um amor

                        profundo e inesquecível

                        o dia dos namorados.

 

                            sonho

                        sonhei que era um pássaro

                        que volta ao ninho antigo.

                        queria rever o lar saudoso:

                        o meu último, lindo abrigo!

 

                        entrei, o ‘’fantasma de amor’’

                        o amor perdido focou meu guia.

                        tomou os maus como amigo;

                        e passo a passo caminhou comigo.

 

                        ai... a sala com lareira quente,

                        e uma poltrona me convida a sentar em frente.

                        olhei feliz as dançarinas do fogo;

                        estendi meu braço procurando teu ombro.

 

                        mas você não estava

procurar, não adiantava

                        ...melhor se vou à biblioteca;

                        sentar na poltrona onde

                        sempre tirei minha soneca.

 

                        fui para nosso quarto de dormir,

                        pôr cobertor grosso pra cobrir

                        a cama do ninho do amor e descanso,

                        onde abracei na última vez com lágrimas

                        e não queria largar você nunca mais!

 

                        oh! ‘’fantasma de amor’’ amigo tanto...

                        larga-me... por favor! lembro sim o quanto

                        era nossa casa...

                        era uma ilusão perdida!

                        me lembro com claridade

                        que chorava em canto..

                        cada canto uma saudade!!

 

                                                         o bom

                                   o bom sentirá a bondade provida

                                   de outro bom; a bondade que alimenta

                                   a vida e dá força para lutar contra o mal

                                   assim como a carne reage à espinha

                                   com o sangue apesar da ardência...!                                             

 

 

                        lembranças da guerra

                        vêm os momentos inesperados,

                        lembrando de coisas boas e ruins!

                        de repente abro a cortina

                        do teatro da vida

                        mostrando momentos

                        da guerra sofrida

 

                        frio com chuvas, calor sem águas!

                        andar fraco sem comer!

                        foi satisfação achar

                        um cavalo morto!

                        cortando um pedaço de carne,

                        brigando com o vizinho!

 

                        descançar, acordar no colo

                        de uma mulher qualquer.

                        quem era ela nem queria saber!

                        marchando depois na lama

                        com a bota furada;

                        tremendo de frio

                        pobre soldado!

 

                        oh! disparar arma para matar?

                        deixando os corpos sem enterrar?

                        enfiar a faca no coração

                        de alguém, do teu inimigo?

                        quem talvez poderia ser teu amigo?

                        que pena, ele era como voce, jovem!

                        mas se tu não o matasse

                        ele o faria também pela ‘’ordem’’!

 

                        enfim, veio a fome após a guerra!

                        jovens, e até velhas, estupradas com força.

                        miséria, tristeza ficaram como ‘’sombra’’

                        sem saber, como livrar-se dela??

 

                        chega!! vem brilhar o sol outra vez

                        apaga as lembranças da ‘’sombra’’ de vez!

                        deus, venha me iluminar

                        meu coraçao, e minha alma,

                        para que eu possa amar, e ser amado!!

 

                        médico

                        hospital...silêncio...!

                        mas aqui dentro é diferente...

                        a luta é grande por vida e morte...

                        eu estou aqui: médico novo...

                        cheio de vontade para salvar vidas;

                        lutar até o fim, com garras,

                        no meu quarto esperando,

                        a primeira chamada...?

 

                        deferente voz do megafone do hospital!

                        ‘’atençao’’, chamamos médico livre

                        para paciente com estado vital!

                        emergência...emergência

                        olhei para a primeira paciente

                        uma garota com corpo inerte:

                        parada cardíaca...

 

                        vou dar massagem com as mãos,

                        e agora choque elétrico...

                        massagem...e choque...repetida,

                        não mexe o corpo, parece perdida?

                        sacudo o corpinho inerte...

                        mas jä lhe tomou conta a ‘’morte’’.

                        olhei em redor desesperado, impotente.

                        perdi meu primeiro paciente!

 

                        agora é só o silêncio que temos!

                        a garota nós perdemos...

                        lamento muito, nós perdemos.

                        minhas palavras no silêncio

                        parecem como eco:

                        lamento muito, nós perdemos...

                        nós perdemos,...os perdemos!

 

                        encontrar deus!

                        na poltrona, sozinho, sentado,

                        nada, quase nada pensando.

                        parece minha mente trancada

                        mas assim mesmo quero falar.

                        falar sem fingir, sem enganar.

                        tirar todas desgraças;

                        despistar as tristezas,

                        sofrimentos e as misérias!

                        que tomam conta de todos

                        nós que estamos sonhando

                        a paz de espírito, a felicidade!

 

                        eu tenho que gritar!

                        tenho que despertar

                        o mundo perturbado!

                        que tem salvaçao!

                        devo convencê-lo

                        que existe algo mais!

                        nesta vida cega, surda, fingida:

                        existem os invencíveis sentimentos:

                        amor, a compreenssão, assim a paz!!

                        a sonhada felicidade:

                        estar junto com deus!

 

                        primeira namorada “única’’

                        eu tenho uma pessoa querida:

                        quando fala, fico perdido.

                        a voz dela parece criança...

                        mas a seriedade dela dá esperança.

 

                        falamos coisas...com coisas,

                        bobeiras, ruins, e bonitas.

                        fala querida você me agrada!

                        parece que já virou minha namorada.

 

                        gostaria ouvir sempre tua voz!...

                        porque o poder da voz abraça a nós!

                        eu fiquei por voce, apaixonado;

                        por você, pela tua voz ‘’única’’.

 

                        por favor, não desligue nunca!

                        não estou querendo perder:

                        minha primeira namorada – ‘’telefônica’’

 

                        eterna saudade

                        sei que nosso amor já terminou

                        mesmo sem deus, tudo findou;

                        assim levou a felicidade,

                        deixando em mim cruel saudade!

 

                        guarda esta rosa meu amor;

                        esta rosa que é minha dor;

                        esta rosa, oh! meu coração!

                        sejas a dizer desta canção.

 

                        sonhos queridos

                        que foram perdidos;

                        e inesquecíveis momentos de amor;

                        beijos e abraços e todo teu calor

                        volte, oh! volte para mim.

 

                        sei que o nosso amor já terminou;

                        mesmo sem deus; tudo findou;

                        assim levou a felicidade,

                        deixando em mim cruel saudade!

            (esta é uma música e letra composição do autor miklos korontai e

            foi apresentada no canal 12, atual rede paranaense de tv, em curitiba, em1969)

 

                        a vida novela

                        que dia hoje? não sei?

                        mas pouco importa...

                        somente me sinto fora,

                        fora de hoje, e de ontem.

 

                        estou boiando entre terra e céu

                        sem saber porque e como,

                        virando história uma vida

                        para novela, a ‘’vida-novela’’.

 

                        novela como tantas outras:

                        longas, alegres e curtas?!

                        com capítulos diferentes,

                        tristes, impressionantes.

 

                        histórias: com paixões, amores,

                        inimizades e traições...

                        a novela quer apresentar a vida

                        capítulos felizes, e sofridos?!

 

                        mas aliviando nos últimos.

                        o último capítulo

                        com cheiro de velas e jasmin

                        chegando a ‘’vida-novela’’ no fim.

 

                        fim! da ‘’vida-novela’’ em papel escrito

                        pelo grande poeta, o destino.

 

                        separação

                         cada separação é dolorosa,

                        a despedida deixa saudade!

                        e o coração fica machucado.

                        nobre sentimento falecido!

                        deixando sofrimento de luto!

                        deve ter várias vezes acontecido,

                        com qualquer um de nós...

                        durante a vida sem, critério

                        juntando, talvez, sem querer

                        um pequeno ‘’cemitério’’.

 

                        o dia de amanhã

                         por nossa vida

                        já pagamos de ontem;

                        já sabemos o preço de hoje

                        quem sabe o que estará previsto

                        amanhã; até a noite?

  

amor infinito  (valsa)

                         escuta o teu cantar

                        na voz verde do mar;

                        no céu do infinito

                        a me chamar.

 

                        eu vejo o teu olhar

                        surgindo de uma flor

                        na voz de um passarinho

                        a me chamar.

 

                        oh! meu deus por que será

                        que ela não vem

                        aos braços meus

                        por que será que

                        existia adeus?

 

                        amar, sonhar, sofrer?

                        a vida é mesmo assim;

                        somente uma saudade

                        não tem fim!

             (esta é uma música e letra de composição do autor miklos korontai.

            apresentada no canal 12 (atual rede paranaense), em curitiba, em 1969)

 

                                              

                        primavera

                         o vento em cima manda

                        as nuvens sem rumo

                        uma brisa grita baixinho

                        e com cabelos molhados

                        correm ida e volta

                        aguaceiro sem calçados

                        e para abrir os sempre

                        molhados narizinhos

                        dos brotinhos.

                        crepúsculo está arrumando

                        a cama nas nuvens

                        o calor cobre levemente

                        o brilho das folhas

                        nas árvores sedentas.

 

 

                        mistério da vida

                         no corpo do homem tem

                        milhões e milhões de cobrinhas

                        esperando a fêmea

                        a excitação amorosa

                        as cobrinhas avançam

                        dento da fêmea

            rapidamente

            pequeno grito

            felicidade, deu-se a

            fecundação realizada.

 

            as cobrinhas invisíveis

            tão pequenas, mesma forma

            gigantes com a energia

            maior do mundo

            tomando conta da vida

            as misteriosas cobrinhas

            espermatozóides.

 

 

            roncos da noite

            acordei minha mulher

            saiu da cama

            acendi a luz

            andou até a porta

            com um cobertor

            e travesseiro

            em baixo do braço

            olhou pra mim...

            teu ronco, vou pra sala...

            saiu...

            eu fiquei pensando:

            e quando você ronca?

            pra onde vou sair?

            querida?

 

                        quem é você?

            alguém me contou

            que existe um todo poderoso

            que fez a terra, o céu

            o mar, as flores e o homem.

 

            depois, cruzou os braços e

            nem percebeu

            que milhões de crianças morrem de fome

            ficou de braços cruzados nas

            guerras mundiais, nas quais

morreram milhões de pessoas

           

            ficou de braços cruzados

            com doenças matando milhões

            ladrões e assassinos abusando

            vivendo sem controle

 

            os grandes desastres naturais

            maremotos, terremotos, fogo

            matam, matam...e você

            ficou de braços cruzados!

 

            quem é você?

            nem percebeu quando tive derrame

            artrose e agora, apesar de operado

            não posso andar

            você também ficou de braços cruzados!

 

            alguém me falou: ele é todo poderoso...

            deus!

            como você deixou o mundo sofrer?

            o mundo que você criou?

            descruze os braços e abra-os

            para abraçar este mundo

            que já sofreu demais!

 

  

                               a televisão

            ligo a televisão

            no primeiro programa

            escolar, documentário,

            ou qualquer outro

            não importa.

            depois, uma entrevista

            pouco interessa.

            em seguida, música, show

            a cada hora, notícias

            nem falo das novelas

            para não esquecer

            “vale a pena de ver

            de novo”...

            a televisão enche nossa vida

            quando morrer, por favor,

            ponham uma tv portátil

            no meu túmulo

            para não perder

            o costume...

 

                           presente?

já falei do passado

mas não escrevi nada

do presente

a verdade, dia-a-dia

a luta

que vem do passado

que forma a vida

nova, melhor

com segurança

 

um presente sonhado

esquecer todas as

dificuldades e erros

reformar os pensamentos

sentir que o que se faz

é real e agora é bom

tem que confiar em si mesmo

enfrentar o presente

que oferece esperança

para futuro melhor!

 

uma das noites

já passou a meia noite

eu estou sem sono

estou pensando, pensando

nem sei o que

a minha mente vazia

como a noite sem estrelas

 

que fiz ontem?

que fiz hoje?

não sei

que vou fazer amanhã?

planejei o nada!

gostaria amar novamente

esquecer o odiar.

 

Seria bom sentir

De novo

As emoções

Que só a vida

Pode apresentar

Mas não tem

Mais tempo a esperar

O dia já está clareando

E a luz ilumina os sentimentos

Mórbidos surgidos

Na noite, no silêncio.

 

 

 

                       mentira

                     o mentiroso não agüenta

                     se mentem para ele!

                     o sincero será o único que;

                     pode mentir; sem criar dúvida!

                  

  

                           solidão

                     meu cabelo já ficou tão branco

                     como a geada de inverno de campo...

                     o mundo em minha volta

                     mudou e correu à frente...

                     e eu?...fiquei velho? diferente?

 

                     minha mulher deixou-me...

                     cortando os nossos laços!

                     meus pequenos cresceram...

                     saíram dos meus braços!

                     e com a vida nova,

                     sem querer me esqueceram.

 

                     sobram as lembranças!

                     saudades das crianças!

                     sucessos e frustrações!

                     riquezas e pobrezas...

                     ilusões e decepções!...

 

                     frente ao meu copo cheio,

                     estou hoje, sentado sozinho,

                     e como falso companheiro,

                     um outro copo vazio!

 

                     nos pés encostado

                     meu único amigo:

                     o fiel cachorro...

                     e não falta na minha boca

                     para meditação profunda

                     o velho cachimbo...

 

                     anoiteceu de vez

                     acendo as velas

                     para quebrar a escuridão...

                     assim, talvez,

                     não sinto tanto a solidão!...

 

 

          destino?

                                   o passado valeu

                                   mais de sete décadas

                                   carregava nos ombros

                                   sucessos, fracassos

                        felicidades e tristezas

                        cada erro muda a vida

                        e muda o rumo do

                        destino e do futuro.

                       

                        o futuro exige trabalhos

                        progressos, novidades

                        mas o longo passado

                        com as variedades da vida

                        deixou cansado o corpo

                        e a mente.

                        não tem mais o futuro

                        nem presente, por quê?

                        o destino a nada abraçado

                        com a morte!

 

  

            destino

            cheguei encruzilhada

            na minha vida

            escolher

            médico ou engenheiro?

            escolher o certo?

            deus me deu o caminho....

 

o sonhador

 eu sonhava com um futuro

brilhante, ser rico

famoso! queria ser

médico-cirurgião

fazer transplantes importantes...

novidades.

           

            ah! queria ser

            engenheiro, arquiteto

            construir casas

            prédios fabulosos!

            centenas de casas

            populares e baratas!

 

                       pensei ser advogado

                       ser muito conhecido

                       e talvez juiz?

                       temido pelos criminosos

                       e aplaudido pelo

                       mundo inteiro!

                                  

                                   mas também ser ator...

                                   e talvez cantor?

                                   convidado para hollywood!

                                   ter avião próprio

                                   castelo com mordomias

                                   as mulheres escolhidas

 

eu sonhei também

a minha morte....

milhares de admiradores

vieram me acompanhar

dar o último adeus

rezaram, jogaram flores

 

 

            falaram entre eles

            que pena! foi um grande homem!

            bem, pelo menos

            um grande sonhador!

 

 

 condenados

 a noite já chegou ao fim

mal poderia dormir

dói tudo...

reumatismo?

já passei dos setenta

cabelos pintados

loiro escuro, bem penteados.

 

visto camisa branca

gravata vermelha com bolinhas brancas

grandes

terno cinza claro

estou elegante!

aparência cinqüenta

e olha lá....

 

quero comprar um carro novo

importado, claro!

talvez um bmw

preço bom, 36 vezes

agüento, será fácil

aposentadoria vai dar...

 

o financiamento tem que aprovar...

mais de setenta

duvidoso dar três anos

de crédito, quem sabe?...

negado por idade...

pronto! um deus!

já estou condenado

pelo comércio....

 

não posso sonhar mais

tenho que ficar com

carro velho

nem precisa mais

pintar os cabelos

porque ninguém vai dar

crédito para a vida

a longa vida...

 o comércio, até os amigos

já me acham sem futuro

estou condenado!

condenado!

 

 

 

                  velhice

como todo dia, anoiteceu

tudo ficou preto

as cores morreram

até as vozes ficaram quietas

 

a vida em sonho sepultada

enfim as estrelas acordavam

lá no céu

eu estava sozinho

a noite majestosa

 

o silêncio tomava conta

minha alma solitária

os meus pensamentos

lembranças

talvez esquecidas

tempo de criança, feliz

como jovem, a luta

sem parar

por minha família

hoje já velho,

estou parado

vivo só com o passado

como o destino

comandava sem marcar

o futuro.

 

hoje admiro as noites

assim como o silêncio

sem sono

assim é mais fácil

preparar

a minha alma para

a esperada e

inevitável morte.

 

 

passado

os anos como se acumularam

fazem lembranças do bem

os amores, felicidades

criam saudades profundas

mas ficam marcados

no passado...

 

os anos como se acumularam

fazem lembranças

a guerra, sofrimento

gostaríamos de esquecê-los

mas não será possível

estão marcados no passado!

 

como os anos se acumulam

afastando a juventude

chegou o presente e foi!

ligeiramente, se afastou

seja bem ou mal sucedido

o tempo não pára, já está

marcado no passado!

 

escrevi alguns pensamentos

leio ligeiro porque

quando termino

já é passado!

 

 

                      silêncio da noite

                     o silêncio quase grita

                     sinto-me abandonado

                     como nunca

                     estou anadando como se fosse

                     perdido no escuro

                     boiando na minha casa

                     sem sentir o passado

                     sem pensar no futuro.

 

                     talvez procurando o presente?

                     o presente que hoje

                     ficou tão insignificante?

                     será que procuro ainda

                     a razão da existência?

                     talvez o amor, o carinho

                     ternura nunca recebidos?

 

                     procuro a fé perdida

                     e a fuga de tudo

                     a esperança?!

 

                     hoje, na verdade

                     não sinto mais nada

                     sou muito amargurado

                     nem sinto forças para ser!

                     não quero mais nada ver

                     deste mundo falso

                     o mundo que finge "vida"

                     mas prepara a "morte"!

 

                     no silêncio, nesta noite!

                     sonhei com a minha morte!

        

                     eu vi meu corpo inerte

                     e neste rosto sempre

                     cansado e triste

                     fiquei surpreso ao ver

                     meus lábios estavam rizonhos

                     ta;vez porque encontrei

                     na minha morte 

                     o que sempre procurei:

                     a felicidade!!

 

                    mensagem de despedida...

                    obrigado por você me deixar te amar

                     montamos um maravilhoso lar

                     obrigado, pela tua ajuda para ser,

                     novamente novo homem e aparecer.

 

                     obrigado. você me fez feliz

                     não sei porque, me fez ferir?

                     obrigado, você fez tanto e me humilhou

                     para satisfazer seu orgulho!

 

                     obrigado, por teu beijo gostoso,

                     e por abraçar teu corpo delicioso.

                     obrigado, por esta paixão estúpida!

                     pensei que na minha vida fôsse a ultima!

 

                     obrigado, você acreditou nas fofocas?

                     sobre mim sem sentir dúvidas!

                     obrigado, você se afastou sem pensar;

                     ganhando apoio para não lamentar?

 

                     obrigado, porque posso sentir a falta tua;

                     sim! eu tinha alguém que era minha!

                     obrigado, porque não tenho mais nada;

                     nem inimigo, nem pessoa amada!

 

                     obrigado, meu deus por este tempo a amada,

                     que deixou você para mim, emprestada!

 

                     mensagem para juventude 

                        seja feliz pela juventude!

                        e conserve enquanto pode

                        aproveitar todos os momentos

                        que a vida presenteia a vós.

                       

                        abre o peito, vira para sol;

                        vai para o campo juntar flor;

                        ouça a voz do passarinho

                        e admira a criança risonha!

 

                        não vá atrás dos sonhos impossíveis;

                        para evitar muitas decepções.

                        cuida o futuro, para que não seja imagem.

                        ninguém alcançou as maravilhas da miragem!

 

                        aceita de deus o destino

                        seja difícil, ou levinho!

                        problemas tudo mundo têm;

                        enfrenta-os com coragem também!

 

                        acredita no bom, e na verdade;

                        e queira alcançar a felicidade!

                        a felicidade, os gestos para dar;

                        mostra com isto: que sabe amar!